quarta-feira, 30 de janeiro de 2013




O segredo está no passo. Com um tênis tradicional, o calcanhar toca o chão primeiro, e o amortecedor absorve parte do impacto, que é maior nesse tipo de pisada. Mas, com o minimalista, o peito do pé chega antes, suavizando o contato, e o choque com o solo é todo assimilado pelo corpo. Um estudo do professor Daniel Lieberman, da Universidade Harvard, nos Estados Unidos, sugere que aterrissar com o calcanhar leva o corredor a sofrer mais lesões por esforços repetitivos. "Dessa forma há uma parada súbita do pé, e isso gera um pico de força até três vezes maior que o peso da pessoa. Essa energia extra não existe quando a parte da frente chega primeiro", explica a professora de biomecânica Sarah Ridge, da também americana Brigham Young University.
No entanto, optar pelo minimalista da noite para o dia pode ser perigoso. O ortopedista Rogério Teixeira, do Hospital e Maternidade São Luiz, na capital paulista, esclarece por quê: o calcanhar tem uma camada de gordura muito mais generosa que o peito do pé, protegendo esse membro. Quilos extras também são um problema. "Se você está bem treinado e sem excesso de peso, o minimalista não causará danos. A questão é que muita gente começa a correr justamente para emagrecer", constata Teixeixa. "Quem está acima do peso e não usa amortecimento vai ter uma lesão mais cedo ou mais tarde", alerta.
A musculatura é outro ponto importante a considerar. O fisiologista Júlio Serrão, da Universidade de São Paulo, explica que o calçado minimalista exige bem mais esforço dos músculos do pé e do tríceps sural, popularmente conhecido como batata da perna. "O corredor suaviza a colisão com o solo, mas força essa área, já que ela é mais utilizada, aumentando o risco de lesões", constata Serrão.

Adaptação exige treino e paciência
Quem decide mudar sofre um bocado no início. O preparador físico Leandro Sandoval, diretor técnico da Life Training Assessoria Esportiva, diz que o atleta sente muitas dores musculares nessa fase. "Como o minimalista não protege do impacto, é uma porta aberta para lesões se usado de forma inadequada." A dica é inseri-lo na rotina aos poucos, em partes do treino, aumentando o tempo de uso a cada semana.

As principais diferenças
Os efeitos de cada tipo de calçado no corpo

Alinhamento do tronco: Com o minimalista, a coluna fica reta, enquanto o tênis tradicional inclina o corpo para frente. Para correr, é importante fortalecer a musculatura das costas seja qual for o tipo de calçado, porque encrencas nessa região costumam causar lesões no corpo todo.

Joelhos: Na aterrissagem com o calcanhar, a perna fica mais esticada. Com o antepé, o joelho fica levemente flexionado, evitando panes. "Isso dificulta que você se machuque", diz Júlio Serrão. O ideal é trabalhar bem o quadríceps femural, músculo que fica atrás da coxa e sustenta o joelho no giro do passo.

Panturrilha: Apesar de estressar a musculatura por sobrecarregá-la na pisada natural, o minimalista melhora a propriocepção - uma espécie de sistema de sensores neuromotores que reconhecem as mudanças de movimento e se adaptam a elas. "Quanto mais simples for o tênis, maior será o estímulo desse mecanismo", explica Rogério Teixeira. A altura dos amortecedores do calçado tradicional aumenta o risco de torção em pisos irregulares. "O minimalista dá mais estabilidade", ressalta Leandro Sandoval.
Gasto calórico : O tipo de sapato influencia pouco na queima de calorias, isso depende mais do treino e da periodicidade da corrida. Para quem está acima do peso, o tênis com amortecedor é mais indicado para evitar sobrecarga nas articulações.

Pés: São os mais castigados pelos minimalistas, que costumam causar fraturas nos metatarsos, ossos que antecedem os dedos, e no calcâneo, o osso do calcanhar. São comuns ainda casos de fascite plantar, inflamação do tendão que passa pela planta do pé. A fase de transição, em que a pessoa está "reaprendendo" a correr, é a mais arriscada. Mas vale lembrar que mesmo tênis tradicionais, quando não adequados ao seu tipo de pé, podem provocar danos.


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